11/09/2020

O Cariri, a luta em defesa das mulheres e as eleições municipais

  



Um olhar rápido para a situação das mulheres no Brasil e podemos compreender como é importante nesse momento de pandemia debater um pouco sobre a necessidade de estarmos discutindo o tema da violência que atinge mulheres no Brasil inteiro. E, infelizmente, temos na Região do Cariri um espaço comprovadamente repleto de maus exemplos quando falamos de violência. No Cariri é normal a morte de mulheres e a impunidade.

Os dados da violência são concretos. Em 2019 uma reportagem da BBC Brasil apontava: “Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. Dentro de casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casos de violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda”.

Na época da pandemia a violência contra a mulher aumenta. E os dados são concretos. Em São Paulo, por exemplo, uma constatação: “No contexto da pandemia de covid-19, os atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência aumentaram 44,9% no estado de São Paulo. Em relatório divulgado no último dia 20 de abril  Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) informa que o total de socorros prestados passou de 6.775 para 9.817, na comparação entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de feminicídios também subiu no estado, de 13 para 19 casos (46,2%). Fonte: Agência Brasil.

Os dados acima permitem que nós possamos debater abertamente que as mulheres são vítimas cotidianamente de violência e atualmente temos um Governo Federal que pouco ou nada faz no combate a essa violência. Temos também uma classe política omissa e muitas vezes conivente e instituições que não fazem seu papel para fazer cumprir as leis que protegem as mulheres da violência.

Portanto, nesse momento em que mulheres no Cariri, no Ceará e no resto do Brasil continuam sendo vítimas da violência nada mais importante do que levar esse debate para as eleições municipais. Será uma forma de dizer que as mulheres eleitoras estarão atentas para os políticos que negam que as mulheres são vítimas da violência ou que tentarão aprovar leis que prejudiquem os históricos direitos das mulheres. 

 

A importância da Leia Maria da Penha



É clara a importância da Lei Maria da Penha em vigor no Brasil deste 2006 no enfrentamento à violência que atinge mulheres em território nacional. Em uma entrevista concedida à CUT Brasil a então ministra Eleonora Menecucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, destacou que um dos principais avanços da Lei Maria da Penha foi fazer do Estado o responsável pelo enfrentamento da violência contra a mulher.

Mas mesmo com a Lei Maria da Penha as mulheres cearenses precisam ficar alertas. No estudo “Panorama da violência contra as mulheres no Brasil” feito pelo Senado Federal em 2016 mostrou que “De acordo com os registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, do Ministério da Saúde, no ano de 2014, o estado do Ceará apresentou uma taxa de 6,3 homicídios por 100 mil mulheres, superior à taxa média nacional, de 4,6 homicídios por 100 mil mulheres. Assim como acontece na quase totalidade dos estados brasileiros, a violência letal registrada no ano foi maior contra mulheres pretas e pardas. Cumpre salientar que o estado do Ceará e o estado de Roraima são os únicos estados que apresentaram uma taxa de homicídios de mulheres de todas as raças superior, tanto à taxa de homicídios de mulheres pretas e pardas, quanto à de mulheres brancas”.

Portanto, aproveitando o momento eleitoral é preciso que movimentos sociais, sindicais, partidos políticos e sociedade possam promover um amplo debate acerca da defesa dos direitos das mulheres e contra a violência. Várias são as pautas que podem ser debatidas, começando por exemplo, por uma ampliação da participação das mulheres na vida política.

Pouca participação da mulher na política do Cariri

Um fato é real nesse período de pré-campanha: a dificuldade dos partidos em fechar a chapa com o percentual de 30 por cento de mulheres. É uma dificuldade que atinge quase todas as legendas. E, para evitar burlar a lei, como já foi identificado em outros pleitos o Ministério Público fica de olho para que não se use candidaturas de mulheres como laranjas.

A falta de participação da mulher nessa pré-campanha no Cariri também fica evidente nas pré-candidaturas de mulheres às prefeituras.  Em Juazeiro do Norte surgiu o nome da ex-deputada estadual Ana Paula Cruz (PSB) que deve confirmar sua candidatura na convenção do partido no próximo dia 15. Outro nome que surgiu e deve confirmar sua candidatura é a professora Zuleide Queiroz,(PSOL). As duas candidaturas estão confirmadas. Em Barbalha nenhum partido propôs o nome de uma mulher na chapa majoritária. Mas salvo mudanças de última hora isso não deve acontecer.

Em algumas cidades do Cariri, lógico que aparece a candidatura de algumas mulheres como Socorro Matos em Nova Olinda, Mundinha Ferreira em  Jati e  Gislaine Landim em Brejo Santo. Mas a participação da mulher no espaço político ainda pode ser considerada pequeno.

 

OPINIÃO

A participação da mulher na política



Íris Tavares

Historiadora e escritora

O lugar da mulher é a onde ela queira estar. O querer estar é carregado de um significado importante e fundamental para a participação consciente e verdadeira. Em regra geral, a participação política das mulheres está condicionada a uma cota percentual prevista por lei para que os partidos cumpram.

Essa participação não deve ser engendrada de qualquer jeito ou forma, afinal a presença da mulher precisa estar associada a qualidade e ao direito de participar, não de apenas fazer parte, mas de ser parte de um projeto político que defenda e elabore políticas públicas voltadas para valorização das mulheres, equidade de gênero, reconhecimento da mulher enquanto sujeito social com engajamento político na construção da democracia plena, pelo direito de ser mulher numa sociedade ante feminicídio, sem misoginia, sem à exploração dos homens e mulheres contra as mulheres.

Por isso a participação da mulher na política não deve ser uma coisa boba, de pai para filha, da mais bonita da cidade, nada disso deve importar mediante os grandes desafios e temas complexos que a atualidade nos impõe. Não basta ser mulher precisa ser de luta, saber e esperançar.


Material publicado na edição n° 24 desta sexta-feira, 11/9, do jornal Leia Sempre