Emerson Monteiro
Advogado e
escritor
Dentro das
minhas lembranças de criança, lá um dia, por volta dos quatro anos de idade,
fui com minha mãe visitar amiga sua que morava na Rua São Francisco, próximo à
igreja do santo, no Bairro Pinto Madeira, em Crato. Chegáramos ao bairro alguns
meses depois de virmos de Lavras da Mangabeira. Naquela tarde, sei bem não,
estávamos na pequena residência, nessa visita, onde demoraríamos só pouco
tempo, mas o suficiente a que eu presenciasse passar cena que marcou momentos
posteriores. Viria passar em frente à casa um enterro, féretro de algum morador
daquela área. Observador contumaz, notei o movimento daquelas pessoas a
transportar a urna mortuário e quis saber do que aquilo se tratava.
Até então,
vivendo na fazenda dos meus avós, nunca soubera detalhes do jeito de devolver a
matéria ao chão; noutras palavras, desconhecia o suplemento de viver que espera
a todos logo ali no final da curva da existência. Aliás, sabia que os bichos
morrem, lógico, pois via morrerem os carneiros, os animais de quintal, frangos,
galinhas, que eram levados à força ao repasto das pessoas. No entanto ignorava
por completo aonde terminavam os humanos, revelação vinda naquela tarde fria,
em Crato.
Primeiro
contato direto com o derradeiro ato deste plano, isso mexeu nas minhas
imaginações. É tanto que ainda agora lembro e conto. Causou espécie ao juízo do
menino que, talvez, desconfiasse tivesse vindo aqui e permanecer feito
Azaverus, personagem de Machado de Assis, que não morreria jamais. Desde então
pretendo me acostumar com a ideia da morte. Nos conventos, segundo consta das
lendas, os religiosos adotavam usar crâneo envelhecido sobre os livros em que
meditavam, isso na intenção de preservar em seus pensamento a imagem do que
virá adiante, ao baixar o pano do espetáculo.
Muitos fazem
de conta que não é consigo o drama dessa página conclusiva, e insistem nas
paixões desenfreadas, nos distúrbios e nas festas. Quantas opiniões a respeito,
do que poucos reconhecem inevitável. Existe até frase atribuída a um sábio que
diz: Viva
como se nunca fosse morrer, e morra como se não tivesse aqui vivido. Enquanto eu, sigo buscando compreender melhor esse
assunto dogmático e certo.