Leopoldo Martins
Advogado
A iniciativa e comportamento do
Presidente Jair Bolsonaro, principalmente no que concerne a sua resistência ao
isolamento social, parece ignorar o que acontece, atualmente, em nosso país.
Por decisão política vários governadores e prefeitos adotaram medidas mais
drásticas de restrição à circulação de pessoas e veículos, com vistas a conter
a disseminação do Sars-Cov-2, vírus causador e transmissor da Covid-19.
A medida saliente-se, foi adotada em
diversos países, diante do agravamento do cenário de calamidade pública, a
grande e principal diferença em relação a esses países e o nosso é que em
nenhum deles existe uma clara dissensão entre as políticas nacional e regional.
Em nenhum país, pelo que se sabe, ministros responsáveis pela pasta da saúde são
demitidos por não se ajustarem à opinião pessoal do governante máximo da nação
e por não aceitarem, portanto, ser dirigidos por crenças e palpites que
confrontam o que a generalidade dos demais países vem fazendo na tentativa de
conter o avanço dessa avassaladora pandemia.
O panorama acima relatado
consubstancia-se em formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da
morte, ou mais precisamente a necropolítica, onde, o governante decide quem
viverá e quem morrerá — e de que maneira viverão e morrerão. Retrata bem o que
afirmamos, quando presenciamos o presidente Jair Bolsonaro, insistir que a
economia não pode parar mesmo se parte da população precisar morrer para
garantir essa produtividade.
"Alguns vão morrer? Vão morrer.
Lamento, essa é a vida", disse o presidente recentemente. Tudo isso,
somado, gera um sentimento de insegurança, de desesperança, de medo,
ingredientes suficientes para criar uma ambiência caótica, propícia a propostas
não apenas populistas, mas de retrocesso institucional, como tem sido a tônica
nos últimos tempos.