05/06/2020

A necropolítica e o comportamento de Bolsonaro. Por Leopoldo Martins

Leopoldo Martins

Advogado

A iniciativa e comportamento do Presidente Jair Bolsonaro, principalmente no que concerne a sua resistência ao isolamento social, parece ignorar o que acontece, atualmente, em nosso país. Por decisão política vários governadores e prefeitos adotaram medidas mais drásticas de restrição à circulação de pessoas e veículos, com vistas a conter a disseminação do Sars-Cov-2, vírus causador e transmissor da Covid-19.

 A medida saliente-se, foi adotada em diversos países, diante do agravamento do cenário de calamidade pública, a grande e principal diferença em relação a esses países e o nosso é que em nenhum deles existe uma clara dissensão entre as políticas nacional e regional. Em nenhum país, pelo que se sabe, ministros responsáveis pela pasta da saúde são demitidos por não se ajustarem à opinião pessoal do governante máximo da nação e por não aceitarem, portanto, ser dirigidos por crenças e palpites que confrontam o que a generalidade dos demais países vem fazendo na tentativa de conter o avanço dessa avassaladora pandemia.

 O panorama acima relatado consubstancia-se em formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte, ou mais precisamente a necropolítica, onde, o governante decide quem viverá e quem morrerá — e de que maneira viverão e morrerão. Retrata bem o que afirmamos, quando presenciamos o presidente Jair Bolsonaro, insistir que a economia não pode parar mesmo se parte da população precisar morrer para garantir essa produtividade.

 "Alguns vão morrer? Vão morrer. Lamento, essa é a vida", disse o presidente recentemente. Tudo isso, somado, gera um sentimento de insegurança, de desesperança, de medo, ingredientes suficientes para criar uma ambiência caótica, propícia a propostas não apenas populistas, mas de retrocesso institucional, como tem sido a tônica nos últimos tempos.