27/11/2020

O dia que vi Maradona jogar dando dribles curtos e nunca esqueci


 

Foto: site Trivela

Por Tarso Araújo, editor do Leia Sempre

 

O futebol perdeu esta semana um de seus maiores gênios, um de seus ídolos. Diego Armando Maradona, um argentino de estatura baixa e vindo de família pobre, que passou poucas e boas na vida, conseguiu terminar sua vida relativamente cedo como um homem alegre, rico, feliz e ídolo mundial do futebol.

 

Sua partida deixa uma lacuna e imensa tristeza. Durante um bom tempo foi usuário de droga, fez tratamento para se recuperar, e ao final, uma parada cardíaca nos levou Dom Diego.

 

Quem gosta de futebol não pode não reconhecer o gênio de Maradona, mas um jogo me veio à mente quando via as imagens do velório desse grande ser humano, em Buenos Aires.

 

O jogo da Argentina contra a Itália nas semifinais da  Copa de 1990. Sei que muitos falam de Maradona na Copa de 1986, que ele levou a Argentina nas costas, fez um dos um dos gols mais bonitos da história, mas aquele jogo de 1990 foi marcante.

 

Assisti numa cantina perto de onde eu trabalhava naquele início de anos 90 já no desgoverno Collor de Melo. Sentei na mesa e fiquei olhando e esperando uma vitória da Itália que vinha muito bem naquela Copa. Não podemos esquecer que Salvatore Schillaci estava jogando um bolão e foi escolhido o melhor da competição.

 

A Itália entrou como anfitriã e favorita mas parou nos lances secos de uma Argentina bem armada e bem composta em campo. Maradona, podemos observar jogou um pouco mais recuado e armou diversas jogadas perigosas para a Argentina.

 

Ao final os argentinos levaram a melhor nos pênaltis após uma prorrogação cansativa, e o esquadrão comandado mais uma vez por Maradona foi à final com a rival Alemanha. Final repetida depois em 2014, no Brasil. Com duas vitórias para a Alemanha. Em 1986 o time de Maradona derrotou a mesma Alemanha.

 

No jogo, notei Maradona tocando curto, segurando contra ataques e lançando nos pés de Caniggia. Aliás, no segundo tempo o jogo já empatado Caniggia perdeu um gol feito após belo lançamento de Maradona. Poderia ter resolvido o jogo, mas não foi naquele lance.

 

O número 10 da Argentina jogou tranquilo e mais ali no meio-campo. Lembro que ele diversas vezes sofreu falta em seu campo e quando era cercado dava dribles curtos que aprecia estar jogando futebol de salão.

 

Não esqueci aquele jogo emocionante que calou todos no estádio de Nápolis. A torcida italiana realmente não acreditava que estava sendo eliminada em seus domínios.

 

Mas também não podemos esquecer todo o legado de Diego Maradona. Sua voz firme contra a ditadura militar de seu País, a voz firma mais ainda contra as injustiças sociais. Homem que soube se posicionar politicamente e ao lado dos trabalhadores, como poucos jogadores fazem hoje em dia.

 

Diego Armando Maradona se colocou contra os grilhões da indústria do esporte, brigou com cartolas, se colocou contra regimes ditatórias. Era canhoto no campo e na vida, um político de esquerda que era amigo de Chávez, Fidel Castro e aderiu ao Lula Livre com a maior naturalidade.

 

Seus feitos em campo foram monumentais, não chegam aos de Pelé, óbvio, mas é com certeza um dos nomes fundamentais do futebol de todos os tempos.