Emerson Monteiro
Advogado e escritor
Ainda que diante de todo o progresso das ciências e das
conquistas tecnológicas obtidas no decorrer dos milênios, das inovações dos
sistemas econômicos, dos tantos meios de comunicação desenvolvidos, a
civilização persiste a defrontar de modo apenas insuficiente as mazelas da
insatisfação e os dramas das fraquezas humanas. A sociedade e suas relações
apresentam deficiências crônicas de caráter coletivo as quais ferem de morte
valores morais e o bem estar dos cidadãos no que diz respeito ao gosto de viver
bem. E nisso, das ricas nações às inferiores na riqueza, o nível de saúde
mental das populações deixe a desejar em termos de satisfação e esperança.
Neste tempo de guerras sucessivas e aflições pessoais dos
indivíduos a braços com a insegurança, os problemas diversos da educação, da
distribuição de renda, dos métodos de justiça, da paz social, ficam abaixo da
linha de bem estar nas avaliações de ordem da normalidade e pedem urgentes
respostas. A curva da saúde existencial, portanto, permanece flutuante e, sobretudo,
demonstra as inseguranças e angústias, desespero e sofrimento de toda a raça em
xeque.
A luta constante do homem consigo próprio identifica, pois,
o conceito de Sigmund Freud nos estudos da neurose coletiva dos povos desde que
o mundo é mundo. São inúmeros os momentos de considerações em que se possam
diagnosticar crises morais, éticas e conflitos nunca solucionados, demonstrando
assim os indícios das mazelas sob pontos de vista de uma paz do gênero humano
ausente e deficitária.
As lutas sociais por sua vez, que esperavam servir de lição
ao futuro, parecem demonstrar as limitações da espécie no sentido de obter as
respostas às experiências anteriores, quais delinquentes nunca refeitos dos
velhos erros já tão acumulados nas raias da história.
Enquanto isto, no que representa a boa-fé dos líderes bem
intencionados e a coragem cívica dos raros grupos autênticos, há que admitir
vitórias parciais no âmbito dos tratos da psique desta humanidade. E jamais
desistir face aos obstáculos naturais e os impasses resistentes deparados,
porquanto, mesmo que distantes sejam os instrumentos da cura, o valor da
pesquisa e os frutos da iniciativa possuem seus méritos e resultados, a lembrar
de que todo caminho sempre requer os primeiros passos, na sequência das difíceis
expedições e das longas viagens.
(imagem: Quadro de Lesley Oldaker, “Crossing Paths”
(2014).)
Material publicado na edição desta sexta-feira, 2 de outubro de 2020 da edição 27 do jornal Leia Sempre on line.