28/08/2020

Plano Diretor local como Projeto local de poder. Por Alexandre Lucas



Alexandre Lucas I Pedagogo, presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE, integrante do Coletivo Camaradas e da Comissão Cearense do Cultura Viva.

Inserir-se na formulação do planejamento urbano da cidade, é essencial para construir cidades democráticas e exercitar político e pedagogicamente o direito à cidade. Entretanto, é preciso redimensionar a cidade, a partir dos seus territórios e lugares, como mecanismo de fazer uma radiografia urbana e social aproximada da realidade e das demandas da população.

O Plano Diretor da cidade, deve ser construído/reformulado, a partir do fatiamento integrado da cidade, em planos diretores locais, com a garantir de participação social, na formulação e acompanhamento, fiscalização e deliberação sobre a política urbana de forma permanente, através da criação de Conselhos Populares Locais, envolvendo moradores, representantes de organizações da sociedade civil e do poder público que atuam no lugar e território.

A participação social, não pode ser meramente uma formalidade jurídica ou mecanismo consultivo, neste sentido é sempre importante nos questionar de quem a cidade? Essa resposta, nos dar significados para reafirmar a necessidade da participação, como instrumento legítimo de ocupação do espaço político de gestão da cidade.

Por outro lado, a participação social na gestão da cidade, é algo que pressupõe disputa de narrativas e lutas de classes. Até mesmo pelas características em que as cidades são produzidas, pela acumulação, concentração e interesse do capital, o que gera uma paisagem cultural e social recheada de desigualdades e de inacessibilidades.

Participar da gestão da cidade, é um desafio que exige antes que tudo um projeto de sociedade. É preciso alinhar os desejos e as demandas da população   com o conhecimento arquitetônico, urbanismo, paisagístico, ambiental e pedagógico. Essa dialética sinaliza uma nova forma de perceber, atravessar e ser atravessado pela cidade.  

Na esfera democracia, os planos diretores locais, podem se transformar em projetos locais de poder, ampliando a participação social na gestão da cidade e a visão social de mundo da população historicamente marginalizada do processo decisório, tanto micro quanto macro político de   planejamento urbano.       

Os conselhos populares locais, podem ser uma ferramenta importante fazer com que as pessoas se sintam parte da construção da cidade e do enfrentamento do desornamento do capital que gera ordenamento desequilibrado da cidade. 

O direito à cidade, é conflito. Não é espaço de harmonia, é campo de disputa contra a mercantilização espacial e exige para ser efetivado organização e participação social na gestão das cidades. O direito à cidade não se decreta pelo Poder público, mas pelo efetivo poder de decisão da população.  Quais os mecanismos de participação social que garante planejamento da sua cidade?  O Estatuto das Cidades já prevê que o planejamento da cidade tenha a participação da população.            

A pauta dos conselhos populares locais e dos planos diretores locais devem compor as plataformas eleitorais dos movimentos sociais e das candidaturas comprometidas com o direito à cidade.  Afinal, é com poder que podemos democratizar a cidade. 

(Foto: Pinterest)

Material publicado na edição desta sexta-feira, 28/8, do jornal Leia Sempre.