Íris Tavares (Kariri)
Historiadora e militante das causas sociais, ambientais e ecologia. Descendente dos Kariris da Chapada do Araripe.
Há quem diga que o fim do mundo está próximo e a pandemia Covid19 é um ensaio do pretérito-mais-que-perfeito soletrado em todos os continentes, feito um anjo decadente que assombra o planeta, dia e noite. É algo que beira o acidentado terreno da imaginação e da ciência e do cotidiano virulento onde milhões de pessoas são contaminadas, vítimas fatais, sobreviventes que continuam a povoar esse mundo ameaçado a extinção. Como nos corredores da “Guerra de Ninguém”, nas trincheiras das dores sobrevive a ignorância, o fardo secular da acumulação das coisas, das riquezas as custas de tanto sangue derramado. É a ditadura do sempre, do tudo é do mesmo jeito, tanto faz a direita ou a esquerda.
Surge “Fernanflor” com sua alma de artista,
pai e criador de belezas plásticas extraídas do olhar, do sentimento e da
leitura que o mundo lhe imprime. A descoberta das “solidões superiores”, um misto de perturbação ou pura contemplação
dos seres vivos na sua forma in natura. A arte pela arte é um prato de sopa
fria que congela no estomago. Não fosse os diálogos do casal quase perfeito da “Estética da Indiferença”. Traz a
experiência do que é viver sob uma redoma dourada. O sonho da classe média que
almeja adentrar a área de serviço da elite. É uma sedução misturada ao
enfadonho tempo no condomínio das individualidades.
É um tempo de delicadezas que
segue pelos caminhos, pelas trilhas, nos recantos mais longínquos e nos territórios
do pensamento onde a presença da menina brota em “Sofia, uma ventania para dentro”. O que busca essa menina? Cresceu
como as flores encantadas sem estação definida para brotar e o seu perfume
derrama-se desde sempre sobre o vale, a chapada. É a magia do lugar de braços
abertos que segue ao encontro dos encantados.
O mundo do feminino possui
linguagem própria. É místico e revelador. Quantas meninas: Maria, Camila, Guadalupe,
Lucinha, Rebeca, Madalena, Raquel, “Matriuska”,
reunidas em páginas doces e amargas nesse enredo de tranças escovadas. A
obediência e choro na greta das meninas é prenuncio da infância que se
esvai. Coração de mãe é como o altar, o
jardim e a revolução. “O destino das
metáforas” bordadas na barra da saia de João do Reisado, no azul xadrez
pintado na asa da borboleta e no reflexo do sol que se projeta nos veios d’água
que dão de beber as figuras rupestres uma vez pintadas nas cavernas. A metáfora
do platô a pista de dança para as mães d’água e da lua que costumam bailar no
sopé da chapada do Araripe.
Foi essa obra que despertou a
atenção dos patrícios, dos literatas lusófonos. O Brasil que recebe o prêmio
Literário Guerra Junqueiro tem sede no Nordeste e no enclave da chapada do
Araripe. Trata-se de um cearense,
natural de Juazeiro do Norte. Sidney
Rocha é um retirante que faz romaria em Pernambuco, dedica-se a garimpar as
letras e costuma se enfronhar nos espaços de construção das ideias, da
cidadania e da educação. É um estudioso e pesquisador nato vivendo em tempo de
crise civilizatória profunda. Ele é esse ser estranho de teima e harmonia com
as letras.
Mais o que é o prêmio
Literário Guerra Junqueiro? Foi criado em 2017, por meio de uma parceria da
Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Portugal, com a editorial
Novembro. Tem como objetivo recolocar o nome de Guerra Junqueiro no panorama
nacional e expandir a literatura lusófona nos Países da Língua Portuguesa
(PLP).
Quem foi Guerra Junqueiro?
Abílio Manuel Guerra Junqueiro foi alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta
português. Foi o poeta mais popular da sua época (1850-1923) e o mais típico
representante da chamada “Escola Nova”.
Salve os escritores que
resistem e continuam no garimpo das ideias e da escrita.