10/07/2020

Cledimilson Vieira: precisamos ficar juntos para recuperar os diretos dos trabalhadores



O sindicalista Cledimilson Vieira concede entrevista ao Leia Sempre e fala sobre movimento sindical, as perdas dos trabalhadores com as reformas da previdência e trabalhista e o papel dos trabalhadores e do movimento sindical no atual momento político brasileiro. Cledimilson acredita que os trabalhadores devem estar conscientes de seu papel e lutar pela retomada dos sindicatos e de seus direitos.

 

Cledimilson como e porque você entrou na política?

Obrigado pela oportunidade. Primeiro dizer que fazer jornalismo bem feito é assim dando espaço para as mais diversas opiniões procurando conhecer as pessoas que estão no processo político. As pessoas não sabem, mas tenho parentes em Fortaleza, sou da família Arruda, meu pai era o policial José Arruda Pinheiro. Lembro que em 1962 estava em Fortaleza visitando os parentes dele, pessoas das forças militares. Na verdade, minha origem é também interiorana, minha mãe é do interior com 7 irmãos e ela nos criou sozinha. Até que nos anos 70 vim para Juazeiro do Norte, trabalhando em todo tipo de serviço até que consegui trabalhar em construção, e depois arrumei emprego na Bopil. Com o tempo a gente foi fazendo amizade, conversando sobre as coisas e fui encarregado de turma na fábrica, tomei conta de uma fábrica menor. Comecei na política quando comecei a participar de reuniões nas casas dos amigos, e ouvi um discurso que determinada pessoa que eu achava importante não tinha muita força política. Na hora eu pensei se essa pessoa não tem força imagine nós trabalhadores. E vi que o capital não representa a classe trabalhadora. Entrei na política para representar os trabalhadores, classe sofrida que vive sendo humilhada. Fui candidato algumas vezes a vereador, perdi algumas, venci uma vez. E estamos ainda na luta para representar no parlamento de Juazeiro os trabalhadores da nossa cidade.

 

O que significa o movimento sindical para você?

O trabalhador tem que entender que ele sozinho jamais vai conseguir nada e o movimento sindical deve conduzido por trabalhadores de origem.  Ter cuidado pois muita gente já criou sindicato sem trabalhar em nada. É difícil fazer sindicalismo num país onde o capitalismo e os patrões tem todo o direito de falar o que quiser e a mídia ajuda a implantar esse discurso contra os trabalhadores e os sindicatos que  pega nas pessoas e  os sindicatos muitas vezes não são escutados.  Era bom também que os trabalhadores fossem mais solidários e participassem mais da vida sindical.

 

Com as reformas trabalhista e previdenciária você acredita em ganhos dos trabalhadores brasileiros?

Isso é um grande engodo. As duas reformas vieram para tirar direitos. Mostra que os governos eleitos ou montados pelos capitalistas vêm para tirar os direitos de todos os trabalhadores. Os sindicatos estão com pires na mão, perderam força e isso deixa os trabalhadores sem força também. Os trabalhadores pagaram para ver, acreditaram em todo tipo de político e agora estão pagando caro com a perda de seus direitos. Muitos empresários não pagam bem aos trabalhadores e sindicatos com as mãos atadas. O movimento sindical não acabou, vai superar, mas a luta ainda será grande. Essas reformas são perversas, e a reforma previdenciária acabou com o tempo de contribuição e a coisa vai ficar muito pior para trabalhador.  Ou a gente reage ou a situação será pior.

Qual sua opinião sobre o papel do movimento sindical na atualidade?

O papel sempre foi e será importante na defesa do trabalhador. O problema agora é que os sindicatos estão com problemas, de mãos atadas, os trabalhadores hoje estão com dificuldades. O sindicato é eleito e dirigido por trabalhadores, a categoria escolhe quem quer, tem divergência, mas o sindicato é nosso. A força dos trabalhadores é a força do sindicato. O momento atual o importante é lutar pela recuperação do que o trabalhador perdeu e pela retomada da força dos sindicatos.

Como você avalia o governo de Bolsonaro?

Acho que Bolsonaro encontrou muitos adeptos, conseguiu enganar muita gente, continua enganando e muitos votaram por que não queriam votar no PT. Bolsonaro é um péssimo presidente. Qualquer cidadão, não apenas o presidente, tem que ser uma pessoa com palavra, não seja destemperada e que cumpra o que diz. Não se governa nem uma prefeitura sem a Câmara de Vereadores. Governabilidade não é fazer conchaves é administrar junto, pensando no povo. O presidente termina esse governo, mas será um fim melancólico, com um governo muito ruim. Vamos ter que superar todas essas situações que ele provoca, agredindo pessoas e a democracia e querendo dar um golpe. Está na hora de se fazer um pacto por uma nova governabilidade pois esse que aí está não tem condição.

Você concorda com os movimentos que vem surgindo de defesa da democracia no Brasil?

A democracia é tudo, é a vida do país. O cidadão que defende sistema autoritário nada está entendendo nada. A democracia é fundamental. Por isso acho importante qualquer movimento em defesa da democracia. Não cabe mais uma ditadura no Brasil.

 Para você como devem se comportar os trabalhadores brasileiros na atual conjuntura política?

Os trabalhadores devem mudar seu comportamento. Primeiro lutar por seus direitos, se organizar mais, participar mais da vida do sindicato. E na hora do voto votar em quem é trabalhador, deixar de votar em quem é do capital. É hora dos trabalhadores colocarem mão na consciência e começar essa transformação, pois somos nós trabalhadores que levamos esse país nas costas.

Você acha que a saída do Brasil é uma saída rumo ao autoritarismo ou de preservar sua democracia?

Não cabe o autoritarismo. Louco quem cair nesse jogo do bolsonarismo de irmos ao autoritarismo. Vamos e precisamos continuar na democracia. Não podemos fazer o jogo do autoritarismo, mas da democracia.

Como você avalia o governo Camilo Santana?

Acho um ótimo governo. Um político simples, sem arrogância e faz um trabalho decente. Estamos bem servidos no Ceará. Tem problemas, claro, mas o que ele tem feito tem demonstrado dedicação com o povo cearense.

 

E o governo Arnon Bezerra?

Gostaria que fosse diferente. Como cidadão acho que administrar uma prefeitura não é fácil, é difícil. Ele deixou a Câmara dos Deputados numa zona de conforto para administrar uma cidade do nosso porte, uma das maiores do Ceará, será necessário uma pessoa, um prefeito com uma cabeça diferenciada, inovando. É preciso ter parcerias com iniciativa privada, instalar novas empresas na cidade, pois esperar apenas recursos locais não vai dar certo. Os prefeitos de Juazeiro não olham para os setores produtivos. Nossa crítica não é pessoal, mas como administrador o atual prefeito fica devendo, e precisamos de um gestor bem melhor.

Você é pré-candidato a vereador. Como pretende representar os trabalhadores na Câmara Municipal?

Sou pré-candidato, faço político por que gosto, nosso partido é organizado e simples. Nossa ideia é continuar na Câmara de Vereadores nossa luta que fazemos no sindicato representando os trabalhadores, lutando pelos direitos das diversas categorias. Fiscalizar as ações do executivo, e criar leis que beneficiem os trabalhadores de Juazeiro do Norte. Iremos atuar em áreas como saúde, educação, cultura, cidadania e direitos das pessoas pobres.

 

Você não acha que está na hora dos trabalhadores de Juazeiro terem reais representantes no legislativo?

Todas aas categorias deveriam ter seus representantes na Câmara Municipal. Nossa categoria, do setor de calçados é grande, mas outras também tem importância e também não conseguem. Está na hora de termos mais trabalhadores na Câmara de Juazeiro, do Crato, de outras cidades e até na Assembleia Legislativa. Trabalhador que vota em gente rica ou empresário acaba tendo seus direitos retirados.

 

Caso você seja eleito pela Rede quais serão seus principais projetos e como será seu mandato?

Primeiro quero agradecer o pessoal da Rede Sustentabilidade  que nos convidou, o Ronaldo Campos e os amigos da Rede, os filiados, tenho gratidão a essa turma. Nossos projetos serão todos voltados para a classe trabalhadora, e nos comprometemos a levantar as demandas dos trabalhadores, nas mais variadas categorias e transformar essas reivindicações e necessidades do povo em projetos na Câmara Municipal. Vamos ainda fazer uma fiscalização das ações do executivo, para que os recursos sejam usados no bem da sociedade juazeirense.

 Qual sua mensagem para o povo de Juazeiro do Norte?

Minha mensagem para essa cidade linda que amamos e que aqui fico até o fim da minha vida, é que somos um povo inteligente e ordeiro. Vamos pensar bem nas eleições deste ano. Vamos escolher pessoas que realmente possam mudar a cidade. E aproveitar para dizer que os trabalhadores fiquem em casa, essa pandemia é grave e não é só uma gripe. Juazeiro é uma cidade de futuro e temos que ficar unidos para desenvolver nossa cidade. Estamos com nosso nome à disposição do povo.

Material publicado no jornal Leia sempre edição 14 desta sexta-feira, 10/07/2020.