03/07/2020

A importância das mulheres na luta e na política


A historiadora Ana Paula M. Martins faz uma reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade, a importância da ampliação dos espaços negados às mulheres e a participação na política. Em ano eleitoral é importante destacar a ação política das mulheres brasileiras.


A luta das mulheres por igualdade na vida, na sociedade e na política

Ana Paula M. Martins

Historiadora

Ao longo do processo histórico as mulheres foram na maioria das vezes renegadas por uma sociedade patriarcal e patrimonialista, não obstante, lutaram para terem seu lugar na história. Mesmo sofrendo vários tipos de violências.

Ainda hoje as mulheres são vítimas de violências e preconceitos. O machismo bastante enraizado na nossa sociedade impera com muita força. Prova disso são os inumeráveis assassinatos de mulheres de todas as cores, crenças, idades, condições sociais. O homem, o companheiro se acha seu dono, a mulher é apenas uma propriedade que se andar fora da linha deverá ser penalizada, isto na concepção de muitos.

Daí tantas lutas em prol da igualdade de gênero; em favor de colocar a mulher como protagonista da sua história; em busca por liberdade. A história nos mostra que fora necessário o derramamento de sangue de muitas mulheres para que na atualidade outras tantas pudessem ter vez.

As mulheres lutaram para entrar no mercado do trabalho; lutaram por melhores e mais condições de trabalho (redução de jornadas, direito a Licença Maternidade, salários equivalentes aos dos homens, creches para as crianças, direito ao divórcio, entre outros). E, não foi diferente no âmbito político. Até a década de 20 do século XX no Brasil as mulheres não tinham o direito sequer de escolher seus representantes políticos.

O ano de 1932 representa um marco para as mulheres que de alguma forma puderam exercer sua cidadania, contudo, havia sérias restrições.  O direito ao voto se limitava as mulheres casadas com autorização dos maridos.  As mulheres solteiras e viúvas que possuíssem uma renda própria; o voto era facultativo. No ano de 1934 a nova Constituição brasileira abole as restrições. No entanto, somente em 1946 o voto feminino passa a ser obrigatório.

Durante os governos ditatoriais implantados no Brasil, principalmente a Ditadura Militar muitas restrições foram impostas às mulheres. Olga Benário, ativista política, judia, esposa de Luís Carlos Prestes, representa bem toda a crueldade legadas as mulheres em um dos períodos mais tristonhos do nosso país orquestrados por Getúlio Vargas.

No entanto, elas não baixaram a cabeça e continuará buscando protagonismo. Participavam dos movimentos sociais, de movimentos sindicais, associações de bairros, do Movimento pelas Diretas Já, etc. Com a abertura política no final dos anos de 1970 e início da década de 1980 as mulheres mesmo timidamente começaram a desempenhar papel de destaque na política partidária. No Ceará tivemos a eleição de Maria Luiza Fontenele. Uma militante dos movimentos sociais e candidata de esquerda.

Mas foi apenas no início dos anos 2000 que os governos, especialmente a nível federal, buscaram mais e melhores garantias na legislação, a qual passou a conceder mais direitos as mulheres. Foram criadas a Lei Maria da Penha em 2006 (11.340/06) que é um marco no combate a violência contra a mulher e que leva o nome da cearense Maria da Penha Maia que sofreu violências do marido; Lei da Licença Maternidade - Lei nº 11.770, de 2008 que estende a licença de quatro para seis meses; Lei Federal N. 11977/2009 - dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, o título de legitimação de posse será concedido preferencialmente em nome da mulher e dá outras providências; Lei Benedita da Silva que garante vários direitos trabalhistas as empregadas domésticas e, que homenageia a Deputada Federal Benedita da Silva (PT) que foi empregada doméstica e lutou pela aprovação da PEC 66/12.

Enfim, foram nos governos de esquerda, sobretudo, que as mulheres alcançaram com maior solidez certa emancipação. A luta continua. Deve continuar. É preciso garantir mais e mais políticas públicas para as minorias. E, é no campo político que deve ser consolidada. Todas as faces das mulheres brasileiras, cearenses, caririenses precisam se fazer presentes no cenário político. Já que a política é a arte ou ciência de governar é urgente que as mulheres tomem seus assentos e, nas eleições municipais que se avizinham se protagonizem ainda mais. Tomem os exemplos de mulheres que fizeram e fazem história, tais como: Francisca Clotilde, Rachel de Queiroz, Maria Luiza Fontenele, Luiziane Lins, Íris Tavares, Violeta Arrais, Maria da Penha, Luiza Erundina, Benedita da Silva, Sislândia Brito, Dilma Rousseff, Marielle Franco, Otonite Cortez, Zuleide Queiroz, Jandira Feghali, Rosiane Lima Verde, Izolda Cela, Jacqueline Gouveia e tantas outras... Então, cabe a cada um de nós, a mim e a você fortalecer a luta encabeçada por tantas Marias...

“É preciso ter manha
             É preciso ter graça
             É preciso ter sonho sempre
             Quem traz na pele essa marca
             Possui a estranha mania
           De ter fé na vida”.