02/06/2020

Vida, morte e os trabalhadores invisíveis em tempos de pandemia. Por Edson Xavier

Dissipadas todas as ilusões de que uma pandemia de proporções jamais vistas na história da humanidade atingiria igualmente todas as camadas da sociedade, o que vemos é justamente o contrário. Ela aumenta e evidencia as desigualdades sociais. Demonstrando uma indiferença quanto às situações absurdas geradas pela sociedade de classes, vemos hoje o peso enorme dessas desigualdades sobre as camadas mais frágeis. 

Enquanto registramos um aumento do número de casos de COVID-19 no Cariri cearense, e uma dramática ascensão do número de mortos em todo o país, vemos saltar aos olhos a precariedade das condições de trabalho dos servidores públicos de um modo geral e em específico daqueles ligados aos serviços essenciais.

Aparentemente, quanto menor a visibilidade destes trabalhadores menores os cuidados do poder público quanto à sua segurança e seu bem-estar. No entanto, quando conseguimos enxergá-los, é notória a falta de EPI’s (equipamento de proteção individual) e de estruturas necessárias para esses trabalhadores executarem seus serviços adequadamente sem colocar sua segurança em risco.

Médicos, enfermeiros, técnicos etc. têm que ao mesmo tempo enfrentar o vírus e cobrar do poder público a manutenção das condições mínimas para o seu trabalho. Estes profissionais têm ganhado destaque na cena pública, têm sido aplaudidos e louvados por anônimos e figuras publicas importantes; mas e aqueles trabalhadores que em sua própria condição de trabalho são invisibilizados?

Os coveiros da nossa cidade são exemplo disso. Trabalham já há muito tempo em condições tremendamente precárias. A explosão da crise, no entanto, não fez com que o poder público passasse a se preocupar com a sua situação enquanto trabalhadores. No momento eles lidam diretamente com cadáveres infectados pelo Covid-19, os quais nem mesmo os parentes e amigos puderam se aproximar. Sendo assim, põem constantemente sua saúde e sua vida em risco e, assumindo que sendo trabalhadores que ganham salários baixíssimos, portanto, sem condições de se manter isolados dentro de moradias muitas vezes precárias, colocam em risco também seus familiares.

Faltam a esses trabalhadores os insumos básicos para seu trabalho. Os EPI’s são insuficientes, não há fardamento, as ferramentas de trabalho geralmente se encontram em situação deplorável e as estruturas de apoio de seu ambiente de trabalho são simplesmente desumanas. Falta água para beber, chuveiros para a higienização e até mesmo banheiros. Se em tempos de normalidade as condições desses trabalhadores já seriam absurdas, diante da pandemia se apresentam simplesmente como aberrantes.

Todos compreendemos que em um momento como esse os esforços e recursos da prefeitura municipal devam se concentrar no enfrentamento à pandemia e aos cuidados com a população; mas, sem servidores públicos não há enfrentamento possível. É fundamental ressaltarmos: sem garis, auxiliares de serviços gerais ou coveiros e todos esses servidores “invisíveis,” os serviços públicos ficariam simplesmente inviabilizados e totalmente incapacitados de lutar contra a pandemia. 

O registro fotográfico foi realizado nos dois cemitérios públicos municipais de Juazeiro do Norte-CE: cemitério do Socorro e cemitério São João Batista. 

É importante também ressaltar que um dos coveiros do cemitério do Socorro, mencionou que já havia enterrado algumas vítimas do COVID-19, mesmo sem a proteção adequada.

Por Edson Xavier, vice-presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Juazeiro do Norte (SISEMJUN)

Imagens: Leandro Medeiros – ASCOM SISEMJUN