O principal perfil das vítimas é de rapazes entre 20 ou 24 anos, residente em Juazeiro do Norte. O maior município da região é o local que mais se mata adolescentes e jovens com idade entre 10 e 24 anos: ao todo, foram 30 homicídios de pessoas nesta faixa etária. Mais do que estatísticas, os assassinatos representam realidade permeada por pobreza, racismo e, principalmente, ausência de políticas públicas para além de investimentos na área de segurança pública.
Os
homicídios de adolescentes e jovens, em 2020, foram registrados em 11 cidades
caririenses: Juazeiro do Norte (30 assassinatos), Crato (14), Campos Sales
(seis), Missão Velha e Várzea Alegre (quatro cada cidade), Barbalha (três),
Lavras da Mangabeira (dois), e, ainda, Aurora, Farias Brito, Jardim e Mauriti,
que contabilizam um assassinato em cada município. Ao todo, foram 62 rapazes e
seis meninas mortos.
Os mais jovens foram Lindiene Furtado, de 13
anos, assassinada a tiros em Várzea Alegre, e Júlio Henrique, 14 anos, morto em
Crato, com uso de arma branca.
A arma de fogo é o principal meio para execução
dos crimes, empregado pelos agressores em 60 homicídios.
Em quatro foram utilizadas armas brancas e
“outros meios” em três homicídios.
Desassistidos
Como dito no início, mais do que dados, os
crimes são resultados de três fatores principais, apontados pela coordenadora
do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), Francimara
Carneiro: pobreza, racismo e desassistência do Estado. Ela indica que a
letalidade juvenil “volta com tudo” em 2020, depois de registrar recuo em anos
anteriores. 798 adolescentes e jovens foram mortos nos primeiros cinco meses do
ano. “Fruto, sobretudo, de uma desresponsabilização do Estado, no enfrentamento
de desigualdades estruturais, como as questões da pobreza e do racismo”,
argumenta Francimara. Em 2019, o Cedeca promoveu estudo para analisar os
investimentos do Ceará nos últimos dez anos. Conforme a pesquisa, o Estado
elevou consideravelmente o investimento na área de segurança pública,
considerada pelo Cedeca como uma segurança ostensiva e um modelo que
vulnerabiliza adolescentes, pessoas negras e, inclusive, policiais em
detrimento de investimentos em áreas sociais. “Para nós, isso não é
coincidência. Na proporção em que se aumentou o investimento em segurança
pública e se diminuíram os investimentos com áreas sociais, também tivemos um
aumento no número de homicídios. Então, isso é um processo de
desresponsabilização do Estado com o enfrentamento do problema, ao mesmo tempo
que é uma ação de um modelo de segurança pública racista, desigual e
excludente”, conclui Francimara Carneiro.