30/06/2020

67 jovens assassinados na Região do Cariri em 2020

(imagem: PT.org)


A região do Cariri contabiliza 67 adolescentes e jovens assassinados em 2020. Os números são referentes ao primeiro dia do ano até segunda-feira (29).

O principal perfil das vítimas é de rapazes entre 20 ou 24 anos, residente em Juazeiro do Norte. O maior município da região é o local que mais se mata adolescentes e jovens com idade entre 10 e 24 anos: ao todo, foram 30 homicídios de pessoas nesta faixa etária. Mais do que estatísticas, os assassinatos representam realidade permeada por pobreza, racismo e, principalmente, ausência de políticas públicas para além de investimentos na área de segurança pública.

 Os homicídios de adolescentes e jovens, em 2020, foram registrados em 11 cidades caririenses: Juazeiro do Norte (30 assassinatos), Crato (14), Campos Sales (seis), Missão Velha e Várzea Alegre (quatro cada cidade), Barbalha (três), Lavras da Mangabeira (dois), e, ainda, Aurora, Farias Brito, Jardim e Mauriti, que contabilizam um assassinato em cada município. Ao todo, foram 62 rapazes e seis meninas mortos.

Os mais jovens foram Lindiene Furtado, de 13 anos, assassinada a tiros em Várzea Alegre, e Júlio Henrique, 14 anos, morto em Crato, com uso de arma branca.

A arma de fogo é o principal meio para execução dos crimes, empregado pelos agressores em 60 homicídios.

Em quatro foram utilizadas armas brancas e “outros meios” em três homicídios.

Desassistidos

 

Como dito no início, mais do que dados, os crimes são resultados de três fatores principais, apontados pela coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), Francimara Carneiro: pobreza, racismo e desassistência do Estado. Ela indica que a letalidade juvenil “volta com tudo” em 2020, depois de registrar recuo em anos anteriores. 798 adolescentes e jovens foram mortos nos primeiros cinco meses do ano. “Fruto, sobretudo, de uma desresponsabilização do Estado, no enfrentamento de desigualdades estruturais, como as questões da pobreza e do racismo”, argumenta Francimara. Em 2019, o Cedeca promoveu estudo para analisar os investimentos do Ceará nos últimos dez anos. Conforme a pesquisa, o Estado elevou consideravelmente o investimento na área de segurança pública, considerada pelo Cedeca como uma segurança ostensiva e um modelo que vulnerabiliza adolescentes, pessoas negras e, inclusive, policiais em detrimento de investimentos em áreas sociais. “Para nós, isso não é coincidência. Na proporção em que se aumentou o investimento em segurança pública e se diminuíram os investimentos com áreas sociais, também tivemos um aumento no número de homicídios. Então, isso é um processo de desresponsabilização do Estado com o enfrentamento do problema, ao mesmo tempo que é uma ação de um modelo de segurança pública racista, desigual e excludente”, conclui Francimara Carneiro.

(publicada no Jornal do Cariri edição desta terça-feira, 30/6)