23/03/2021

Profissionais de saúde estão no limite da exaustão, aponta Fiocruz

Servidor público, a culpa não é sua – reforma administrativa é  inconstitucional – Sindsaúde Goiás
Foto: Reprodução Sindsaúde Go


Há mais de um ano atuando na linha de frente contra a Covid-19, os profissionais da saúde do Brasil estão no limite da exaustão. Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisa as Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil e revela que além da falta de equipamentos de proteção e apoio, médicos, enfermeiros e técnicos são prejudicados por fake news e até 70% deles reprovam atuação de autoridades. 

O levantamento foi divulgado neste domingo (21). Ao todo, 15.132 profissionais de nível superior, a maioria médicos e enfermeiros (81,4% do total), responderam ao questionário da Fiocruz aplicado em 2.200 municípios. Quase metade deles admitiram excesso de trabalho, com jornadas superiores a 40 horas semanais, ao longo desta que é a maior crise sanitária do Brasil em mais de 100 anos. 

Um elevado percentual destes trabalhadores ainda necessita de mais de um emprego para sobreviver (45%) e 95% desses trabalhadores afirmam que tiveram suas vidas alteradas de modo significativo pela pandemia do novo coronavírus.

A pesquisa também avaliou o ambiente laboral e os aspectos físicos, emocionais e psíquicos desses trabalhadores. E descobriu que 43,2% deles não se sentem protegidos para o exercício de suas atividades. De acordo com a entidade, o principal motivo listado pelos profissionais é a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). Mais da metade dos profissionais de saúde (64%) disseram ter que improvisar sua própria proteção.

Saúde dos profissionais em colapso

Além disso, 15% dos médicos, enfermeiros e técnicos de saúde apontaram que faltam estrutura adequada para realização da atividade e fluxos de internação eficientes (12,3%). Os entrevistados também indicaram despreparo técnico (11,8%) e insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais (10,4%).

Todo o desgaste profissional ainda se acumula com o medo da morte iminente e a situação dos hospitais do país, que estão com UTIs lotadas. A pesquisa da Fiocruz revela que os trabalhadores da saúde já sentem “graves e prejudiciais consequências à saúde mental” em virtude da pandemia. Entre as queixas mais citadas estão perturbação do sono (15,8%), irritabilidade, choro frequente (13,6%) e incapacidade de relaxar e estresse (11,7%). Dificuldade de concentração e pensamento lento (9,2%), perda de satisfação na carreira, tristeza e apatia (9,1%) e até pensamentos suicidas (8,3%) também acompanham o cotidiano profissional. O trabalho também é apontado como extenuante por 22,2%. E até 14% da força que atua na linha de frente menciona estar esgotada.

Violência e discriminação


Esgotados, os trabalhadores ainda se sentem sem apoio institucional (60%) e desvalorizados pela própria chefia (21%) e até mesmo pela população geral. Apenas 25% sentem-se valorizados pelos pacientes. O levantamento ainda mostrou que 40% deles foram vítimas de algum tipo de violência em seu ambiente de trabalho. Até 33,7% sofreu discriminação na própria vizinhança e 27,6% no trajeto do trabalho para casa. A Fiocruz avalia que a violência tem relação com a exposição do trabalhador ao vírus, em que a população o vê como um potencial transmissor.

Impacto das fake news


Outro obstáculo encontrado por médicos, enfermeiros e técnicos de saúde são as fake news. Ao abordar as percepções desses trabalhadores sobre o impacto das notícias falsas, mais de 90% admitiram que elas são um problema para o combate à pandemia. Três em cada quatro profissionais ainda relataram terem atendido pacientes com crenças falsas sobre a pandemia, relacionadas, por exemplo, a adoção de medicamentos ineficazes e sem comprovação científica.

O posicionamento de algumas autoridades também prejudicou o trabalho de quem luta pela vida dos pacientes com covid-19. Ao menos 70% dos trabalhadores da saúde reprovaram declarações que consideram “inconsistentes e não esclarecedoras”.