Por um olhar para a nossa história para além do dia 20 de novembro
Natália Pinheiro I Graduanda do curso de História pela Universidade Regional do Cariri (URCA)
Instituído
na lei 10.639 do ano de 2003 para tornar obrigatório o ensino da História e
Cultura Afrobrasileira e Africana, o dia da Consciência Negra costuma ser uma
data em que algumas escolas e outras instituições se voltam para discussão de
vários temas que tocam na vida de pessoas negras, como racismo, desigualdade,
processo de escravização ao qual milhares de negras e negros foram submetidos
durantes séculos, alguns aspectos culturais dessa população, entre outros. É
uma data para se lembrar de negras e negros. E sim, é importante lembrar do
crime que foi a escravidão para que não seja esquecido ou sua crueldade e
desumanidade repetidas, importante lembrar para que possamos compreender os
impactos desse período e de como o racismo é estrutural e estruturante da
sociedade brasileira, mas é também um dia de lembrar da luta negra.
Comemorado
em 20 de novembro pela memória da morte de Zumbi dos Palmares, que foi um dos
líderes do Quilombo dos Palmares, símbolo da resistência negra no país, é uma
data bem mais importante pro movimento negro, pois o dia 13 de maio, ao focar
na suposta libertação protagonizada pela Rainha Izabel, invisibiliza toda uma
trajetória de luta de pessoas negras e abolicionistas. Nem um fragmento da
nossa liberdade foi dado. E ainda há de se questionar a existência, de fato,
dessa tal liberdade. Desse modo, o dia 20 de novembro é um dia de memória de
lutas, conquistas, mas também de reflexão sobre questões que atravessam a
existência e vida de negras e negros no país, pois o Brasil é o país com a
maior população negra fora do continente africano, sendo constituído por mais
da metade da população, segundo dados do IBGE, mas onde se vê pouquíssimas
representações em cargos de poder e mídias, sendo a população com menores
salários, maior número entre a população pobre, com menos acesso a itens
básicos de sobrevivência, educação e moradia, além de serem a população que
mais morre fruto da necropolítica, e, no atual contexto, também os mais
impactados pelo covid 19, entre várias outras questões que atravessam a
existência e tentativa de sobrevivência de pessoas negras.
É
de grande importância salientar que a discussões de questões étnico-raciais são
evidenciadas no mês de novembro por conta do dia da Consciência Negras, mas que
é necessário que não se limite apenas a essa data, pois estudar e compreender a
História e Cultura de negros e negras, é compreender nossa própria História
enquanto sociedade brasileira. Não existe História do Brasil sem a população
negra.
Fato
importante de ser salientado é a necessidade da implementação dessas questões
de forma mais efetiva em escolas, principalmente escolas públicas e em bairros
periféricos, porque em sua maioria é onde se encontra as crianças negras que
muitas das vezes só encontram referências negativas de sua identidade ou sua
história atrelada exclusivamente ao período da escravidão. Crescer em uma sociedade
racista e cheia de complexidades e apagamentos e políticas de embranquecimento
como é o caso do Brasil é extremamente dolorido para as crianças negras que
aprendem a odiar as heranças trazidas nos traços. Nesse sentido, o papel da
educação nesse cenário é fundamental também para a criação de uma consciência
negra.
Para
além do reconhecimento enquanto uma sociedade racista, é preciso posturas
antirracistas. E que não devem partir apenas de pessoas negras. Enquanto a luta
antirracista for encarada como responsabilidade exclusiva de pessoas negras,
não haverá a mudança necessária. É urgente que pessoas brancas sejam antirracistas,
e para além da fala. Precisamos de ações concretas no cotidiano.
Que
nesse dia 20 de novembro, de celebração e memória de luta, lembremos da luta de
Zumbi e de vários outros que trilharam caminhos de resistência, mas lembremos
também de Dandara dos Palmares, de Preta Simoa no Ceará, de Verônica e Valéria
no Cariri, e de tantas outras mulheres negras que são invisibilizadas, mas
foram e são fundamentais para as lutas da população negra nesse país, e que vieram antes abrindo caminhos e
inspirando coragem para seguir trilhando possibilidades de existência
individual e coletiva.
Por
fim, é urgente que essas discussões estejam presentes para além do dia 20 de
novembro, porque essa data é um dia de luta, mas para nós, pessoas negras,
todos os outros dias também são. E discutir sobre História e Cultura Negra não
é mais que discutir a própria História do Brasil. Por isso sigamos com a força
dos que nos antecederam, trilhando caminhos de mudança, e escrevendo novas
histórias com nossas próprias mãos.
Material publicado na edição nº 34 do Jornal Leia Sempre desta sexta-feira, 20/11, Dia da Consciência Negra no Brasil!!!!