CIDADANIA
A
MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS NÃO É A SAÍDA PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL
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Texto de Aurélio
Matias. Dados do Enem de 2018 indicam que os
Institutos Federais tiveram melhor desempenho do que as escolas militares,
mesmos essas recebendo o Investimento por aluno três vezes mais que a escola
regular. No decreto que institui as escolas cívico-militares, a gestão é
compartilhada entre civis e militares. Prevê que militares da reserva atuarão
tanto na área administrativa como nas áreas pedagógica e educacional, onde
serão responsáveis por fortalecer "valores humanos, éticos e morais".
Charge do Latuff/site Vermelho
A falácia do modelo de escolas cívico-militares
de Bolsonaro
Aurélio Matias
Professor e escritor
Promessa de campanha de Bolsonaro, o modelo de
escolas cívico-militares é o único projeto apresentado pelo MEC (Ministério da
Educação) para a educação básica até o momento.
O principal argumento usado para apoiar o
modelo se baseia na disciplina. A adequação do cotidiano escolar aos parâmetros
militares, para evitar transgressões. E um argumento enganoso de que as escolas
militares são melhores.
Dados do
Enem de 2018 indicam que os Institutos Federais tiveram melhor desempenho do
que as escolas militares, mesmos essas recebendo o Investimento por aluno três
vezes mais que a escola regular.
No decreto que institui as escolas
cívico-militares, a gestão é compartilhada entre civis e militares. Prevê que
militares da reserva atuarão tanto na área administrativa como nas áreas
pedagógica e educacional, onde serão responsáveis por fortalecer "valores
humanos, éticos e morais".
Na realidade, os recursos extras que virão para
as escolas cívico-militares terão basicamente um destino – a contratação de
militares. É uma forma que o presidente Bolsonaro encontrou para manter fiel
através de benefícios financeiros parte da sua base eleitoral, composta em
parte por policiais militares, bombeiros e membros das forças armadas. Uma base
armada, um perigo para a democracia.
Tamanha aberração só se explica em atender a um
interesse de posicionamento político-ideológico do grupo que está hoje no
governo. Impor, principalmente para os setores da periferia, um modelo de
educação voltado para a obediência e a conformação com a ordem estabelecida.
Nossas escolas têm que ser espaços de
diversidade, de busca da razão, da reflexão crítica, assim funciona a ciência,
a democracia. A escola deve formar cidadãos críticos e não o que prega a
militarização de apenas bater continência e a obediência cega. Nestas eleições,
os candidatos Bolsonaristas defendem essa mesma proposta de militarização.
Professores apontam abusos em escolas militares
Uma matéria publicada
pela Agência Pública mostra o nível de conservadorismo nas escolas militares, bem
como, o nível de censura.
No texto, professor dessas instituições relatam “censura” e
“intervenção nos conteúdos” nas salas de aula de instituições de ensino regular
gerenciadas pelo Exército. A orientação dos militares para que os educadores
simplesmente abandonem debater em sal de aula temas com racismo, homofobia,
citar programas de governos anteriores, como o Minha Casa Minha Vida ou Bolsa
Família.
Professores
relatam ainda que os militares vetam fazer analogias com discussões recentes do
noticiário ao mencionar o aumento do conservadorismo e da influência de
discursos do Escola Sem Partido na administração dos colégios militares,
mantidos com orçamento do Ministério da Defesa. O movimento Escola Sem Partido
defende o fim do que chamam de “doutrinação ideológica” nas escolas e repreende
debates como a igualdade de gênero nas salas de aula.
Para
os educadores entrevistados a censura existe e agora está ficando cada vez mais
explícita. Além disso ,relataram assédio no tocante ao debate sobre o retorno
das aulas durante a pandemia.
Os retrocessos da educação brasileira na era
Bolsonaro
Os retrocessos na educação brasileira na era
Bolsonaro não se sente apenas pelo fato dele ter nomeado ministros sem a mínima
capacidade e conhecimento da área. As
nomeações foram todas políticas e gente com perfil fundamentalista, para levar
à educação brasileiro ao atraso. Mas, outros pontos merecem uma atenção da sociedade no
atual momento.
O primeiro é a reforma administrativa que ataca
a educação pública brasileira. Na proposta da reforma feita pelo governo
Bolsonaro ataca
os trabalhadores do serviço público que possuem salário médio, principalmente
os professores, e, ainda mais, aqueles que atuam no ensino básico, e sem mexer
em nada nas categorias que possuem os maiores privilégios, como juízes do alto
escalão e os parlamentares. A ideia de Bolsonaro é atacar os serviços públicos essenciais,
aqueles que atendem diretamente a população como educação e saúde.
Lembrar também que com apoio do então deputado federal Jair Bolsonaro o
então presidente Michel Temer aprovou a PEC do Teto dos Gastos congelando
investimentos em saúde e educação públicas por 20 anos. PEC mantida pelo atual
governo.
Outro ataque à educação é a falta de respeito à decisão da comunidade universitária.
Nas principais instituições federais Bolsonaro vem nomeando pessoas que não são
bem avaliadas pela comunidade nas consultas. Isso gera perseguições e o
desrespeito às decisões da academia.
E por último, recentemente o governo Bolsonaro conseguiu retirar R$ 1,4
bilhões da educação para colocar em obras de infraestrutura mostrando pouco
apreço pela educação pública dos brasileiros.
Material publicado
na edição nº 32 desta sexta-feira, 06/11, no jornal Leia Sempre.