06/11/2020

A militarização das escolas não é a saída para a educação no Brasil

 


CIDADANIA

A MILITARIZAÇÃO DAS ESCOLAS NÃO É A SAÍDA PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL

 

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Texto de Aurélio Matias. Dados do Enem de 2018 indicam que os Institutos Federais tiveram melhor desempenho do que as escolas militares, mesmos essas recebendo o Investimento por aluno três vezes mais que a escola regular. No decreto que institui as escolas cívico-militares, a gestão é compartilhada entre civis e militares. Prevê que militares da reserva atuarão tanto na área administrativa como nas áreas pedagógica e educacional, onde serão responsáveis por fortalecer "valores humanos, éticos e morais".

Charge do Latuff/site Vermelho


A falácia do modelo de escolas cívico-militares de Bolsonaro

Aurélio Matias

Professor e escritor

Promessa de campanha de Bolsonaro, o modelo de escolas cívico-militares é o único projeto apresentado pelo MEC (Ministério da Educação) para a educação básica até o momento.

O principal argumento usado para apoiar o modelo se baseia na disciplina. A adequação do cotidiano escolar aos parâmetros militares, para evitar transgressões. E um argumento enganoso de que as escolas militares são melhores.

 Dados do Enem de 2018 indicam que os Institutos Federais tiveram melhor desempenho do que as escolas militares, mesmos essas recebendo o Investimento por aluno três vezes mais que a escola regular.

No decreto que institui as escolas cívico-militares, a gestão é compartilhada entre civis e militares. Prevê que militares da reserva atuarão tanto na área administrativa como nas áreas pedagógica e educacional, onde serão responsáveis por fortalecer "valores humanos, éticos e morais".

Na realidade, os recursos extras que virão para as escolas cívico-militares terão basicamente um destino – a contratação de militares. É uma forma que o presidente Bolsonaro encontrou para manter fiel através de benefícios financeiros parte da sua base eleitoral, composta em parte por policiais militares, bombeiros e membros das forças armadas. Uma base armada, um perigo para a democracia.

Tamanha aberração só se explica em atender a um interesse de posicionamento político-ideológico do grupo que está hoje no governo. Impor, principalmente para os setores da periferia, um modelo de educação voltado para a obediência e a conformação com a ordem estabelecida.

Nossas escolas têm que ser espaços de diversidade, de busca da razão, da reflexão crítica, assim funciona a ciência, a democracia. A escola deve formar cidadãos críticos e não o que prega a militarização de apenas bater continência e a obediência cega. Nestas eleições, os candidatos Bolsonaristas defendem essa mesma proposta de militarização.

 

Professores apontam abusos em escolas militares

Uma matéria publicada pela Agência Pública mostra o nível de conservadorismo nas escolas militares, bem como, o nível de censura.

No texto, professor dessas instituições relatam “censura” e “intervenção nos conteúdos” nas salas de aula de instituições de ensino regular gerenciadas pelo Exército. A orientação dos militares para que os educadores simplesmente abandonem debater em sal de aula temas com racismo, homofobia, citar programas de governos anteriores, como o Minha Casa Minha Vida ou Bolsa Família.

Professores relatam ainda que os militares vetam fazer analogias com discussões recentes do noticiário ao mencionar o aumento do conservadorismo e da influência de discursos do Escola Sem Partido na administração dos colégios militares, mantidos com orçamento do Ministério da Defesa. O movimento Escola Sem Partido defende o fim do que chamam de “doutrinação ideológica” nas escolas e repreende debates como a igualdade de gênero nas salas de aula.

Para os educadores entrevistados a censura existe e agora está ficando cada vez mais explícita. Além disso ,relataram assédio no tocante ao debate sobre o retorno das aulas durante  a pandemia.

 

Os retrocessos da educação brasileira na era Bolsonaro

Os retrocessos na educação brasileira na era Bolsonaro não se sente apenas pelo fato dele ter nomeado ministros sem a mínima capacidade e conhecimento da área.  As nomeações foram todas políticas e gente com perfil fundamentalista, para levar à educação brasileiro ao atraso. Mas, outros  pontos merecem uma atenção da sociedade no atual momento.

O primeiro é a reforma administrativa que ataca a educação pública brasileira. Na proposta da reforma feita pelo governo Bolsonaro ataca os trabalhadores do serviço público que possuem salário médio, principalmente os professores, e, ainda mais, aqueles que atuam no ensino básico, e sem mexer em nada nas categorias que possuem os maiores privilégios, como juízes do alto escalão e os parlamentares. A ideia de Bolsonaro é atacar os serviços públicos essenciais, aqueles que atendem diretamente a população como educação e saúde.

Lembrar também que com apoio do então deputado federal Jair Bolsonaro o então presidente Michel Temer aprovou a PEC do Teto dos Gastos congelando investimentos em saúde e educação públicas por 20 anos. PEC mantida pelo atual governo.

Outro ataque à educação é a falta de respeito à decisão da comunidade universitária. Nas principais instituições federais Bolsonaro vem nomeando pessoas que não são bem avaliadas pela comunidade nas consultas. Isso gera perseguições e o desrespeito às decisões da academia.

E por último, recentemente o governo Bolsonaro conseguiu retirar R$ 1,4 bilhões da educação para colocar em obras de infraestrutura mostrando pouco apreço pela educação pública dos brasileiros.

 


Material publicado na edição nº 32 desta sexta-feira, 06/11, no jornal Leia Sempre.