A gestão democrática e participativa das cidades ainda é uma experiência que precisa de compreendida para além dos nossos pares. Os termos democracia e participação viraram expressões corriqueiras e superficiais que precisam ser compreendidos numa dimensão do real e do conflito.
Democracia e participação deve se desligar da compreensão romantizada e harmonizada de sociedade, de unidade de ideias e de construção coletiva pacificada. É na heterogenia de ideias, no dissenso, no confronto de interesses, no antagonismo de posições, na correlação de forças, na disputa de narrativas que a democracia e a participação se tempera.
Quando as classes sociais são declaradamente antagônicas, não esperemos pela paz! As cidades são produzidas a partir do processo de concentração e reprodução do capital, o qual se dividir de forma desordenada e socialmente desequilibrada, apresentada espacialidades e paisagens culturais e sociais contrastantes.
Neste sentido o contraste não é silencioso e nem se apresenta discursivamente e na ação prática de forma retilínea. O que distância ainda mais, a prática política da receita de bolo. Os contextos, correlações de forças e compreensões políticas se modificam a cada conjuntural local e global e em cada espacialidade e lugar.
O desafio da gestão democrática e participativa das cidades reside em ampliar vozes, inclusive as discordantes, em realinhar decisões e dividir poderes, radicalizar o acesso aos serviços públicos e reordenar as ocupações dos espaços de poder.
Num olhar do campo popular e progressista, alinhado a concepção de transformação social, gestão democrática e participativa das cidades, deve ser uma premissa de entrelaçamento das camadas populares aos espaços de poder e de radicalidade na democratização dos serviços públicos.
Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, nem mesmo para a esquerda que saliva cotidianamente as palavras democracia e participação, muitas vezes, até como pretensas detentoras dessas expressões e se contradizendo, em alguns casos, tendo dificuldades para dividir os espaços de poder com os seus próprios pares.
Enquanto não temos, nem teremos uma receita para gestão democrática e participava das cidades, cabe o entendimento de contraste e disputa e a clareza com quem construiremos a democracia e a participação.
Democracia e participação não pode ser uma canção distante e construída no silêncio das decisões e muito menos na ciranda dos nossos pares.
Alexandre Lucas I Pedagogo, presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE, integrante do Coletivo Camaradas e da Comissão Cearense do Cultura Viva.
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