É importante diferenciarmos o entendimento geral de uma frente, com espaços relativamente permanentes e um programa, daquilo que chamamos de unidade para ação: acordos práticos, com um objetivo em comum, mas que mantém a total independência das organizações (um caminho de menor complexidade e imprescindível para barrar as ofensivas antipopulares). Para confundir as pessoas que não suportam mais esse governo genocida, algumas lideranças vendem essas duas táticas como se fossem exatamente a mesma coisa.
Por exemplo: para defender a democracia de um
golpe, não só é possível como seria necessário fazer unidade de ação com
figuras do naipe de Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, Marina Silva, Renan
Calheiros, dentre outros. Mas, é possível construir um projeto de governo, que
viabilize uma frente eleitoral, que defenda nas eleições os interesses dos
trabalhadores, com algum desses nomes? A maioria da esquerda da ordem acredita.
Nós, não.
A luta contra a extrema-direita organizada,
contra o governo Bolsonaro e suas bases, que ainda ameaçam verbal e fisicamente
companheiros nossos, é urgente. Nessa luta não pode existir o sectarismo de
polarizar as eleições com as mobilizações. As eleições deste ano também serão
importantes para minar o governo Bolsonaro, já em crise crônica.
O caminho mais fácil parece ser a conformação
de um amplo arco de aliança eleitoral com quem estiver disposto a derrotar a
extrema-direita. Pode até ser o caminho da vitória eleitoral garantida. Mas
seria um casamento que sequer chegaria à noite de núpcias. Não é possível
construir uma alternativa com aqueles que atacam ou já atacaram nossa classe.
Sob o pretexto de derrotar a extrema-direita
nas eleições municipais, a esquerda da ordem quer reeditar, de norte a sul do
país, alianças eleitorais cujo desfecho trágico nós já conhecemos: absorção das
lideranças populares pelos interesses das elites, incluindo os esquemas de
corrupção, seguida pelo despejo, quando estas lideranças perderem a serventia.
É possível construir uma alternativa de governo
que atenda às necessidades mais básicas da imensa maioria e que até hoje, no
Brasil, não conseguiu ser atendida: moradia digna; saneamento básico; trabalho
com garantias; educação e saúde pública, universal e de qualidade; distribuição
efetiva de renda; combate as diversas formas de opressões (machismo, racismo e
lgbtfobia); um governo dos que querem trabalhar, estudar, viver e construir uma
cidade para o povo.
Para construir essa alternativa de governo é
preciso acreditar que a imensa maioria, explorada e oprimida, é o verdadeiro
sujeito das transformações, não as figuras já desgastadas. Dessa forma,
construir um projeto de governo com quem defende e aplica medidas antipopulares
(reforma trabalhista, da previdência, privatização do saneamento básico, etc)
parece ser o caminho mais fácil, mas é o caminho que vai nos atrasar e jogar a
imensa maioria do povo em uma confusão que só compromete o avanço da
consciência da classe trabalhadora.
As possibilidades estão dadas, a trilha exige
paciência e trabalho. É construir, além da unidade de ação, uma frente com
movimentos sociais, com coletivos, associações populares, partidos da esquerda
socialista, outras frentes e organizações de luta. É essa frente que, nas
mobilizações e participando do processo eleitoral, derrotará a extrema-direita.
Uma frente que deve ser decidida no que quer, com um programa claro de
independência de classe, que seja da imensa maioria do povo.
Precisamos avançar na construção de uma
verdadeira alternativa socialista, que seja capaz de conquistar a confiança e
mobilizar os trabalhadores. O caminho aparentemente mais fácil, o da aliança
com velhos partidos da ordem, dos acordos de cúpula com figuras carcomidas e
atreladas ao que há de pior no conservadorismo, o caminho da ampliação de votos
a qualquer custo, é na verdade o caminho da derrota.
Alessandro Fernandes (Alternativa Socialista/Psol - Juazeiro do
Norte) Ítalo Freitas (Diretor do Sisemjun e membro da Direção Estadual da
CSPConlutas/CE)