(na Rede Brasil Atual)
Jornalista e professora
“Tudo é tão desigual”, cantava Gilberto Gill na música “A Novidade”, nos idos anos 90. Quem poderia imaginar que em 2020, veríamos esse fator desigualdade ficar tão explícito e assustador (virava um pesadelo tão medonho...e frase da referida música).
Tempo de pandemia. As realidades se apresentam mais nítidas. A tal covid 19, o novo coronavírus, vem deixando um rastro sombrio e doloroso mundo afora. Chegou com força no Brasil, antes mesmo que muitos pudessem entender a real gravidade. Neuroses afloradas, medo, solidão. Essa é a vivência atual de uns, outros lidam com aspectos ainda mais pesados, como a fome.
A pergunta é: o que estamos fazendo em relação a isso? Mais reclusos, menos consumistas, mais amorosos, mais atentos às relações familiares? Haja reflexão. Incontáveis Lives... todo mundo feliz fazendo comidinhas incríveis, crianças em aulas remotas, home office. Razoável? Sim, mas não para todos. Sem querer entrar no clichê empatia, a ação tem que ser essa. É preciso pensar no todo, tem gente criticando aula remota sem considerar o esforço dos professores, tem outros que censuram as mães (e pais) pela falta de tempo para fazer todas as atividades com os filhos. Adaptação é o caminho, mas sem forçar a barra, é necessário analisar as situações diversas. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) acontecer ainda esse ano é injusto e excludente. Uns tem condições de estudar, enquanto outros nem estrutura mínima. Uns criticam a falta de solidariedade, outros confundem caridade com vaidade. É preciso verdade, minha gente, e menos julgamento.
Todos sentem, querendo ou não. “A pandemia revelou de forma quase violenta as desigualdades do Brasil”, disse o historiador Leandro Karnal.
Em meio a isso tudo, há uma crise ética e política, de absoluta falta de bom senso, de caráter e de vergonha. O líder do Executivo nacional não cansa de cometer atos que vão na contra mão da ciência, da sensibilidade e da inteligência. Além dele, um séquito de gente ruim semeando atrocidades pelos quatro cantos do país. É cada episódio dantesco, que é difícil até de acreditar. Gente que se recusa a usar a máscara por birra, que agride profissionais como enfermeiros e jornalistas, dissemina notícias falsas e desdenha das mortes e das famílias que sofrem pelas perdas. Lastimável, lamentável, doentio. Mas que não nos enganemos, nem tudo é doença e sim maldade.
Enquanto isso, alguns gestores estaduais e municipais criam estratégias e repensam políticas públicas de amparo e proteção (e também são alvos de críticas) profissionais batalhando na linha de frente desse caos, enviando mensagens incessantes, implorando pra que o povo fique em casa, rezando pra que não chegue a hora das ditas “escolhas de Sofia”, onde terão que decidir quem vive ou não. Em tempo: Viva o Sistema Único de Saúde (SUS) e mais do que nunca a sua inexorável importância.
Complexo conviver com gente querendo fazer festinha, quando precisamos de lockdown; querendo abrir o comércio, enquanto se luta para aumentar o número de leitos e assim, quem sabe, diminuir a abertura de covas.
Nunca mais seremos os mesmos. É triste e problemático, dizem que o pior ainda está por vir. Entretanto, mesmo vislumbrando o lúgubre é preciso agir observando as entrelinhas. Nem tudo está perdido. Tem amor na ativa, com luta e solidariedade de verdade. Façamos o bem, por nós, pelos outros. Existe uma luz no fim do túnel, alguns como eu a chamam de fé.
Publicado no Jornal do Cariri