14/04/2020

Iphan reconhece primeiro sítio arqueológico histórico no Cariri


Um território que foi palco de uma das mais sangrentas batalhas das tropas lideradas por Joaquim Pinto Madeira (1783-1834), em Antonina do Norte, entre os anos de 1831 e 1832, durante o período regencial, foi reconhecido, no fim de março, como sítio arqueológico histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - o primeiro da região do Cariri e apenas o terceiro do Ceará. 

Denominada de "Guerrilhas", a localidade, que fica próxima à BR-230 que dá acesso a Assaré, apresenta resquícios do conflito armado e estruturas que podem ser covas coletivas. 

A convite da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e da comunidade local, o arqueólogo Agnelo Queiroz, há dois anos, iniciou a pesquisa na comunidade de Guerrilhas. O trabalho de campo foi feito em duas visitas técnicas com uma equipe multidisciplinar acompanhada de historiadores, geógrafos e matemáticos. O trabalho identificou estruturas rochosas que, supostamente, seriam utilizadas como trincheiras. 

"É um local estratégico, tendo uma boa posição de defesa e ataque, diante da visibilidade pelas duas laterais. Isso já é evidente na questão topográfica", ressalta Agnelo. A população local também já relatava achados de material bélico, como resto de munições, pedaços de espadas, facas, canivetes e punhais no entorno.  

Com solo muito raso, numa área em que as rochas afloram facilmente, somada às fontes historiográficas, Agnelo acredita que pedras tenham sido usadas para sobrepor covas rasas, que é um padrão encontrado em alguns locais de enterramentos coletivos ou em áreas rurais. A história "conta que houve muitas mortes, não seria possível enterrar os corpos em valas muitos profundas", acredita o arqueólogo. Em um destes montículos, há pedaços de uma cruz, que ficou muito tempo fincada, mas veio a ruir. "Isso indica uma dimensão religiosa, que colabora com a ideia de que ali não houve só as mortes, mas os enterros", completa.