Ainda em recesso parlamentar, os vereadores de Granjeiro devem voltar aos trabalhos, em fevereiro, com uma pauta desde já colocada: a análise de uma denúncia contra o atual prefeito do Município, Ticiano Tomé, que cobra a cassação do mandato do gestor. Eleito vice-prefeito em 2016, ele assumiu o cargo em dezembro passado após o assassinato do então prefeito, João Gregório Neto, conhecido como João do Povo, aos 54 anos. Desde a morte de Gregório, com quem Ticiano Tomé já estava rompido, o Município vive clima de instabilidade política.
A denúncia foi apresentada à Câmara Municipal de Granjeiro por Sérgio Cassiano de Sousa, morador da zona rural do Município, em meio às investigações sobre o assassinato do ex-gestor. Uma das linhas das investigações da Polícia Civil aponta motivação política para o assassinato. O atual prefeito e o pai dele, Vicente Félix de Sousa, conhecido como Vicente Tomé, são suspeitos de envolvimento no crime. Ambos negam.
"A gente recebeu a denúncia na quinta (23), protocolada por um cidadão. Na segunda (27), fui notificar o prefeito, mas ele achou por bem não receber. Com isso, a lei determina que a notificação do recebimento da denúncia seja publicada por duas vezes no Diário Oficial para que o prefeito tome conhecimento do fato", explica o presidente da Câmara, vereador Luiz Márcio Pereira, o "Marcim". Após a comunicação formal, o prefeito terá um prazo para se defender.
Mesmo com as intempéries políticas, o Legislativo não deve ter pressa para julgar o caso. A Câmara Municipal só retorna do recesso parlamentar no próximo dia 17 de fevereiro. De acordo com o presidente da Casa, logo na primeira sessão ordinária do ano, a denúncia e a defesa de Ticiano Tomé, se houver, devem ser apresentadas e votadas pelo plenário, composto por nove vereadores. Para ser aceita, a denúncia precisa da anuência de cinco parlamentares.
"Se o plenário decidir aceitar a denúncia, será formada uma comissão processante, escolhida por meio de sorteio", diz Marcim. Só depois disso, começa o processo formal de análise da denúncia. A reportagem procurou o prefeito Ticiano Tomé para comentar a situação, mas não conseguiu contato com o gestor por telefone até o fechamento desta edição.
Investigações
Ontem, a Polícia Civil anunciou que o foragido da Justiça preso no Maranhão suspeito de envolvimento na morte de João Gregório Neto estava com o carro usado no crime dias antes do assassinato do ex-prefeito. Foi o suspeito que retirou o equipamento de GPS do veículo antes de o carro ser levado para Granjeiro, segundo as autoridades. Carlos César Gonçalo de Freitas, 45 anos, é natural de Caririaçu, cidade vizinha a Granjeiro. A Polícia está investigando se existe algum grau de parentesco ou proximidade de Carlos de Freitas com o atual prefeito de Granjeiro, Ticiano Tomé, e o pai dele, Vicente Félix de Souza, apontados como suspeitos de envolvimento no caso. A Polícia acredita que desavenças políticas tenham motivado o crime.
Com a prisão do suspeito na cidade de Barreirinhas, a investigação desvendou um esquema de transporte de armamento e drogas, do Maranhão para a Região do Cariri, feito por meio de carros alugados que não eram devolvidos às empresas. O suspeito alegou à Polícia que, na época do crime, já havia repassado o carro para terceiros.
João Gregório Neto foi assassinado no dia 24 de dezembro de 2019 enquanto caminhava na beira do açude da cidade. Durante as investigações, a Polícia Civil prendeu dois homens e chegou a apontar o atual gestor e o pai dele, Vicente Félix de Souza, por suspeita de envolvimento no crime.
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) chegou a pedir a prisão de Vicente, mas a Justiça negou. Hoje, ele segue monitorado por meio de tornozeleira eletrônica.
O promotor de Justiça Rafael Couto Vieira diz acreditar na elucidação do crime. "Granjeiro é uma cidade muito pacata, onde não se tinha notícias desse tipo de violência. O crime chocou e traumatizou a população que cobra um desfecho. Apesar de a investigação ser bastante complexa, acredito que em um médio prazo, tenhamos a solução para esse caso", afirma.
(no Diário do Nordeste)